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Mostrando postagens de março, 2009

ELDORADO

Aqui está a exploração do homem sobre o homem Faz avalanches e escaladas Sobe essas serras Os homens mergulham nos dejetos Sonhos num mar de tristeza Zacatecas, Potosí, Ouro Preto tudo logo ali Reflete nos olhos dos homens a imortalidade dourada fascínio do brilho traiçoeiro e furtivo Sem maiores utilidades sua beleza é mórbida, brilhos da morte, êxodo de famintos Mas quem és tu, é o suor do sol? E eu sou seu senhor, ou teu servo?

VERDADE DA MONTANHA

Por essas montanhas existem pedras brilhantes douradas, prateadas Valem mais do que a vida daqueles que as procuram São o apoio de um mundo distante Suas solidezas erguem monumentos maravilhas, estruturas gigantes todas muito alheias ao que se passa aqui Por esses lados sobem igrejas prisões e mansões Podes pensar, meu caro amigo que falo de um tempo passado Mas a História é traiçoeira Nos repete como tragédia.

DIALÉTICA DAS MONTANHAS

Montanhas e capistranas, visões e futuro, minhas montanhas, serras tamanhezas, vidas montanhezas, vidas pobrezas não serão apenas suas riquezas serão seu caminho de dor e sofrimento, sou seu vigia do fim e guia do recomeço. Das profundezas da América do Sul emana o reivindicar pujante o fogo eterno da revolução. Por entre essas serras as vozes querem ser ouvidas. Por entre essas Gerais o nascer nos chama, chamado da nova aurora demolidora de cegos. E as montanhas marcam e recordam a nossa dor.

A FOME DA MONTANHA

Acompanha o caminho de seus ancestrais No último dia do mês, Juan sonha É quando seu sonho pode tocar os céus da altura das montanhas Engole um punhado de ervas Esquecer tudo que se passa e se enfia nas veias da montanha abertas pela História Talvez seja hoje o grande dia Assim roda a engrenagem do mundo Cachorreo, é a vida de cachorro Carrega os sonhos num saco de pedras e lama Essas pessoas descartáveis O que fica é o metal penduricalho de alguma moça inebriada por ignorar a montanha devoradora de homens

A FOME DA MONTANHA II

O solo é pobre E demasiadas altas são essas montanhas tirar o quê da terra? Não se come minério O minério é que se alimenta de homens pequenos É a fome da montanha Os homens têm fome de Minas Movimentam o mundo Para capturá-la Mas inatingível é o cume

POEMA DA DEPENDÊNCIA

Señor, hoje levanto a cabeça para denunciar o que há muito vem a me consumir Devo dizer que nosso subdesenvolvimento é o desenvolvimento de vossa terra Declaro señor que o olho do furacão, consumidor de almas americanas, atravessou o continente Nos encontramos ligados como unha e carne Sou o sustentáculo de sua beleza A pobreza dos meus milhões é a riqueza de seus milhares E o seu sorriso esconde a falta de dentes da minha boca Sei que olhando assim como quem olha pra nada pareço livre, igual a outro homem qualquer Mas te digo señor o que o lápis não escreve meu povo sente, e o que não vês é o que meu coração esconde Por isso señor, somos parte da mesma moeda O norte dá o valor e o sul paga o sofrimento Somos pares da mesma dialética, Minha morte depende da sua vida.