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Mostrando postagens de dezembro, 2011

MORTE DAS CASAS DE OURO PRETO

Morte das casas de Ouro Preto Carlos Drummond de Andrade Sobre o tempo, sobre a taipa, a chuva escorre. As paredes que viram morrer os homens, que viram fugir o ouro, que viram finar-se o reino, que viram, reviram, viram, já não vêem. Também morrem. Assim plantadas no outeiro, menos rudes que orgulhosas na sua pobreza branca, azul e rosa e zarcão, ai, pareciam eternas! Não eram. E cai a chuva sobre rótula e portão. Vai-se a rótula crivando como a renda consumida de um vestido funerário. E ruindo se vai a porta. Só a chuva monorrítmica sobre a noite, sobre a história goteja. Morrem as casas. Morrem, severas. É tempo de fatigar-se a matéria por muito servir ao homem, e de o barro dissolver-se. Nem parecia, na serra, que as coisas sempre cambiam de si, em si. Hoje vão-se. O chão começa a chamar as formas estruturadas faz tanto tempo. Convoca-as a serem terra outra vez. Que se incorporem as árvores hoje vigas! Volte o pó a ser pó pelas estradas! A chuva desce, às canadas. Como chove, como

MUSEU DA INCONFIDÊNCIA

São palavras no chão E memórias nos autos. As casas inda restam, Os amores, mais não. E restam poucas roupas, Sobrepeliz de pároco E vara de um juiz, Anjos, púrpuras, ecos Macia flor de olvido, Sem aroma governas O tempo ingovernável. Muitos pranteiam. Só. Toda a história é remorso.

OS BENS E O SANGUE

Carlos Drummond de Andrade Os urubus do telhado: E virá a companhia inglesa e por sua vez comprará tudo e por sua vez perderá tudo e tudo volverá a nada e secado o ouro escorrerá ferro, e secos morros de ferro taparão0 o vale sinistro onde não mais haverá privilégios, e se irão os últimos escravos, e virão os primeiros camaradas; e a besta belisa renderá os arrogantes corcéis da monarquia, e a vaca belisa dará leite no curral vazio para o menino doentio, e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério se rirão, se rirão porque os mortos não choram.