A MORTE LENTA

"Você me quer belo
E eu não sou belo mais
Me levaram tudo que um homem podia ter
Me cortaram o corpo à faca sem terminar
Me deixaram vivo, sem sangue, apodrecer
Promessas de sol já não queimam meu coração
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?"
Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant
Primeiro gostaria de me desculpar com os poucos leitores pela extensão dos dois primeiros textos do blog. Como foram os primogênitos tive que alargar o texto para me fazer entender melhor a respeito dos objetivos e posicionamentos, prometo ser mais sintético e direto daqui pra frente.
Atualmente estou envolvido, junto aos amigos Bernardo Silvino e Henrique Napoleão, na tentativa de produzir um curta-metragem, de caráter documentativo, sobre a incidência da silicose em trabalhadores da mineração. Tentativa é a palavra certa, devido às dificuldades técnicas e, principalmente, financeiras.
A silicose é uma doença irreversível, decorrente da inalação da poeira da sílica. As partículas da sílica, instaladas no pulmão, endurecem e reduzem progressivamente a capacidade respiratória da vítima, desenvolvendo a tuberculose ou câncer de pulmão. Na maioria dos casos é contraída por meio das más condições de trabalho e falta de equipamento. Suas vidas são tão baratas que não valem o custo.
Em duas reportagens recentes, o Estado de Minas mostrou os casos de Nova Lima e Santa Cruz de Minas. Em ambos episódios são retratados os efeitos da atividade mineradora no estado físico e psicológico dos trabalhadores. Santa Cruz de Minas é testemunha da morte de 16 trabalhadores e ex-trabalhadores devido à silicose, isso até meados de 2008. Em alguns casos, famílias inteiras foram dizimadas. Mais uma vez relembro o conceito formulado por Ruy Mauro Marini, a superexploração do trabalho:
“A produção latino-americana não depende da capacidade interna de consumo. Há uma separação entre a produção e a circulação das mercadorias. Aqui aparece de maneira específica a contradição inerente à produção capitalista, acaba com o trabalhador vendedor e comprador. Em conseqüência a tendência do sistema será de explorar ao máximo a força de trabalho do operário, sem se preocupar em criar as condições para que este a reponha, sempre e quando se possa suprir mediante a incorporação de novos braços ao processo produtivo. Acentua até os limites as contradições dessas relações de trabalho” *.
O caso da Anglo Gold Ashanti (antiga Mineração Morro Velho) em Nova Lima é ainda mais preocupante. São no total 3077 ex-trabalhadores agonizantes que contraíram a doença e já somadas 40 mortes. Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) Minas Gerais é o estado campeão em número de mortes por silicose no Brasil. São focos de silicose no estado os municípios de: Teófilo Otoni, BH, Dores de Guanhães, Itaúna, Corinto, Nova Lima e São Tomé das Letras.
Continuamos instrumento de enriquecimento do além-mar. enquanto isso relegamos nossa gente ao definhamento e miséria.

Comentários

Pedrão Gostoso disse…
A situação é o seguinte:
Ninguem, nesses casos supra-citados, foi obrigado a trabalhar em Mineradoras. As pessoas aceitaram esses trabalhos, serviço esse indispensável em qualquer Governo, inclusive no Comunista tão defendido pelo Sr..
Além de tal fato, com certeza esses trabalhadores possuem inumeros beneficios por seu serviço ser de alta insalubridade e periculosidade, como aposentadoria especial e adicional de insalubridade, dentre outros, além de sempre estarem equipados com EPIs.
Se não bastasse tal fato a mineração é indispensável ao Mundo.
Assim, novamente, achei a opinião do senhor tendenciosa ao Comunismo, como as demais já explanadas.
Unknown disse…
Estou percebendo uma falta de critério entre sua ultima "reportagem" e seu blog. Se o blog tem como objetivo salvar as montanhas, por que você quer agora defender os mineiradores, já que são eles quem destroem elas?
Unknown disse…
Caro Sr. Tádzio, gostaria de expor meu ponto de vista baseado no meu atual curso de Pós-Graduação que é voltado para gestão. A atividade mineradora, assim como Doutior Sorvetão citou, é algo totalmente essencial para o desenvolvimento. Além disso, podemos dizer que ela é envolta em um paradoxo: não existe maneira de praticar a atividade mineradora sem que haja degradção ambiental. Isso infelizmente é um fato inquestionável. O que podemos pensar como solução é o conceito de sustentabilidade. A empresa mineradora precisar trabalhar sua atividade de extração com consciência ambiental e também social. Essa idéia pode parecer muito superficial e ao mesmo tempo algo que nunca é e nunca será aplicado nessa atividade. Mas devemos pensar por esse lado para entender melhor o conceito de sustentabilidade: é preciso criar soluções voltadas para garantir lucro nos negócios (verdade absoluta em qualquer tipo de negócio), preservação ambiental e desenvolvimentos das pessoas.
O grande desafio dos dias de hoje está justamente em inovar e empreender, mas com consciência sustentável. E o sustentável não pode ser mais caro porque o consumidor não aceita pagar essa diferença de preço mesmo em se tratando de um produto ou negócio socialmente e ecologicamente correto. Para driblar essa questão é importante ter foco na gestão e na tecnologia. A tecnologia entraria, por exemplo, com pesquisas e estudos para tentar minimizar os impactos ambientais e também para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. E a gestão garantiria um produto competitivo mas com essa consciência sócio-ambiental já citada acima. Dessa forma, haveria uma melhoria nas condições de extração e ao mesmo tempo garantiria para o país um produto ainda competitivo.
Pedrão Gostoso disse…
Primeiramente gostaria de mostrar minha admiração com o texto escrito pelo Sr. Bernardo, que para nossa surpresa, só não sabe escrever como também expressa muito bem suas idéias.
Em segundo plano me parece que o Sr. Tádzio esta sem argumentos após todo o explanado e, vendo a situação dificil em que se encontra, não quer dialogar, se mantendo inerte perante esta situação, atitude completamente inaceitavel de um blogueiro.
Assim gostaria de deixar meu protesto.
Agradeço a atenção
Tádzio Coelho disse…
Agradeço à atenção e ao comentário. A resposta se tornou um dos textos do blog. Vide o texto de 23/04/09.
Benzadeus disse…
Que coisa estranha... parece até que vocês não se conhecem.

*Ah, o adicional de insalubridade é de 5% a 15% de um salário MÍNIMO, para qualquer função.

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