O CONTEXTO SOCIAL BRASILEIRO: A ESCOLA MANOEL COSTA
"Vapor barato
um mero serviçal
do narcotráfico
Foi encontrado na ruína
de uma escola em construção..."
Fora de Ordem- Caetano Veloso
Recentemente, escrevi no blog um texto (intitulado Raposos e o Coração Americano) em que agradecia ao acaso por me levar até a cidade de Raposos, onde se encontram todas as contradições sociais do contexto de Minas Gerais, assuntos que dizem respeito, principalmente, à atividade mineradora: a produção de riqueza que é exportada para além-mar, deixando o legado de pobreza e esquecimento à população local. Agora volto a agradecer ao acaso (e a mim mesmo, claro), pela oportunidade de chegar até a Escola Dep. Manoel Costa. Farei uma descrição do contexto social o mais neutra possível, apesar de ter consideráveis críticas à neutralidade.
Localizada no Céu Azul- bairro periférico de Belo Horizonte e um dos mais populosos da cidade-, a escola pode ser caracterizada como síntese social do Brasil. Ao lado da escola encontra-se o assentamento Dandara, um dos maiores do MST em Minas Gerais. Ao longo de um enorme descampado surgiram vertiginosamente barracos e mais barracos no decorrer de alguns meses. Os conflitos entre a construtora, dona jurídica do enorme terreno, e os sem-terra definirá os caminhos da região. Além disso, podemos constatar os inúmeros problemas sociais brasileiros da atualidade.
A violência e sua intensa relação com o tráfico de drogas se fazem presentes no cotidiano do bairro. A frustração dos jovens frente a um mercado de trabalho saturado e com farta oferta de mão de obra barata também pode ser averiguada. Mas não é só de tristes traços que se faz o perfil da região. A força e a vibração das pessoas me faz alentar alguma esperança de transformação. A autonomia, a alta capacidade de questionamento frente às autoridades são outras de suas características.
Na educação, usa-se muito uma frase que era, para mim, um discurso vazio, que diz que os professores aprendem com os alunos ao mesmo tempo em que ensinam. Hoje posso evidenciar esta frase com toda razão. Com certeza aprendi, e aprenderei ainda, com meus alunos muito mais do que eles comigo. Conhecer meus alunos, seus desejos, questionamentos, históricos de vida é pra mim uma honra. Os alunos do EJA, com toda determinação de quem não pôde terminar a escola em tempo normal. A curiosa classe do ensino médio que era a mais temida por sua indisciplina, se mostrar uma das mais questionadoras e autônomas. As pessoas encantadoras de todas as idades e jeitos: poetas e poetisas, revolucionários, humoristas, novos amigos e amigas, todos eles me fazem querer ainda mais transformar as coisas.
Na verdade nunca quis, e não quero, ser professor. Tornei-me cientista social por considerar que a sociedade está errada da maneira que está, e que, por isso, preciso compreendê-la para transformá-la. Percebo que essa é a maior das contribuições de meus alunos, me ajudar a compreender a realidade social brasileira. Fui atrás do professorado por identificar uma forma de mudar a percepção das pessoas frente ao mundo. Considero a instituição escolar um fracasso no objetivo transformação social, mas um sucesso aos anseios da burguesia, reproduzir mão de obra de todos os matizes e qualificações. Mas ao mesmo tempo tenho algum espaço de ação, e o usarei da melhor forma. Os investimentos estatais em educação pública são dos mais esparsos, e as condições de trabalho, dadas pelo contexto, são dos piores. Isto só mudará quando a Burguesia Nacional abraçar um projeto de desenvolvimento econômico que necessite de maior mão de obra qualificada. Mas mesmo assim nademos contra a corrente, os incentivarei a evoluírem intelectualmente até o último segundo. Percebo que, realmente, ainda existem boas causas neste mundo.
Comentários
seja por(discaso ou por pura vaidade )
!!!
mas lembrada por quem a ve todos os dias!!![Jornalista Eja B3 Ano]