A USP, A CLASSE MÉDIA E A MÍDIA

O fato é que periodicamente a grande mídia pauta o debate nacional em discussões tontas e improdutivas, com abordagens que prejudicam ainda mais o já-frágil assunto, se aproveitando dos grotões conservadores da classe média. O último havia sido o papo do SUS pro Lula e o regozijo calado com a sua doença.

Os alunos da Usp não se revoltaram simplesmente pela presença da PM, e sim pela prisão de alguns alunos por posse de maconha. No caso, podemos sugerir outra discussão: a legalização das drogas (ou de algumas delas), que me parece ser a discussão levantada por muitos dos integrantes do movimento.

Além do que, é minimamente razoável reconhecer os problemas históricos entre militares e estudantes, e ver que existem um milhão de outras formas de garantir segurança num campus sem necessidade de uma PM.

Os estudantes são historicamente um dos setores mais progressistas do país e, sinceramente, não vejo necessidade de criticá-los com essa raiva e ressentimento sem qualquer propósito. Conquistaram direitos que todos nós aproveitamos hoje em dia.

Quem sabe a grande mídia faz isso para manter a manipulação do pensamento coletivo, ou apenas por ser garantia de gerar algum lucro com o conservadorismo das classes médias nativas. Só o fato de haver um foco do país inteiro nesse debate já é, por si só, uma estupidez completa.

A pergunta é: pra quê criticar a ocupação da reitoria por alguns alunos? Essas discussões são uma crítica contida contra a esquerda, afastando o "perigo" vermelho, mesmo que se digam despolitizadas. Existem pelo menos uns 10 mil assuntos muito mais importantes os quais o conservadorismo de classe média e a grande mídia não deixam brotar.

Comentários

Benzadeus disse…
Esses alunos da USP não estão agindo dessa forma por causa da presença (ou repressão) da polícia. O que eles querem é que a polícia faça vista grossa com as coisas erradas que eles fazem, notavelmente o uso maconha. Esses mesmos estudantes que estão querendo expulsar os PMs do campus são os mesmos que fizeram manifestação sobre a falta de segurança dentro do campus, tempos atrás. Quando o problema da segurança foi resolvida (mediante a inserção da PM dentro do campus, que não é a melhor), pararam de reclamar.
Na verdade, eles não estão preocupados nem mesmo com os alunos que foram presos por porte de maconha: para eles seria perfeito se fosse possível fazer um acordo com a reitoria do tipo "podem fumar maconha à vontade aqui dentro que a polícia não irá prendê-los". Por isso, pra mim esses jovens não passam de uns maconheiros vândalos. Típicos vagabundos que fumam maconha na grama do campus para discutir problemas sociais, sendo que basicamente o dinheiro que usam pra comprar maconha é o que bandidos usam pra comprar a bala que vai explodir a cabeça dos pais deles numa ação violenta.
E sim, existem pelo menos 10 mil assuntos mais importantes que esse para serem discutidos em nosso país. No entanto, se você fundar um jornal que fale das mortes por desnutrição do nordeste, ele fecharia em um mês porque infelizmente ninguém iria se interessar.
Tádzio Coelho disse…
Uma retificação: não são os mesmos alunos que se envolveram nas manifestações por segurança, que, compreensivelmente, atingiu um número muito maior de estudantes.

E eles questionam exatamente o que você chama de "errado" (fumar maconha). Esse é pra mim o grande questionamento que o movimento traz - que têm outras reivindicações - e algo que deveria ser levado mais à sério pelo resto da sociedade - caso você realmente se preocupe com o tráfico de drogas. E eles não estão mais do que no interesse de grupo deles de exigir o tipo de liberdade que eles desejam, algo que todos deveríamos entender e buscar fazer. A presença da PM facilita o controle por parte da reitoria frente às manifestações e outras ações que os estudantes fazem - felizmente.

Obviamente, haverão os esquerdistas (caricaturas de esquerda) que agem de forma precipitada e juvenil (como quebrar janelas e tal) e que, além de não conseguirem angariar as massas para sua causa, afastarão as opiniões mais moderadas. Porém o que há é uma demonização de estudantes que beira a irracionalidade.

E esse papo de "maconheiro vândalo" é coisa da mais retrógrada, só faltou chamar de "vagabundo". Mostra uma incompreensão do atual cenário político.

É absurda essa ferocidade contra estudantes que começam a desenvolver algo que todos deveríamos aprender desde muito cedo, a atuação política. É tudo o que a grande mídia mais quer, uma classe média dócil e obediente aos mandos e desmandos de seus senhores.

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