Minas Sarapalha
Da janela de São Luís
do Maranhão, vejo o imenso porto. O maior do Brasil, dizem. O porto, tal como
eu, veio de Minas.
- Tudo é consequência de um certo nascer ali.
Por lá, passa o ferro
da suprema mina de minério de ferro: Carajás. Ao ver o porto, pondero sobre
minha terra.
- Não estás lá enterrado por baixo de lavras de
ouro ?
Minha terra revolvida
de baixo para cima e engolfada em milhões de litros d´água, terrível redemoinho
terrestre. Os mortos...
- Não estás morto por lá ?
O mineiro
drummondiano é triste e orgulhoso, de ferro. Para mim, só triste. O orgulho se
perdeu n´algum canto. O ferro foi exportado.
- Deixando no corpo a paisagem, mísero pó de
ferro, e este não passa.
Sarapalha-Sagarana
conta a história de uma vila, nos arredores do rio Pará, um povoado que
deixaram por abandonado: “casas, sobradinho, capela; três vendinhas, o chalé e
o cemitério; e a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de
tanto que o mato a entupiu”.
- No fecho da tarde um sino rouco.
A malária dizimou aos
poucos o povoado alastrando a “tremedeira que não desamontava – matando muita
gente”. O cezão avançava a cada ano “um punhado de léguas”, desengordando
devagarinho um rio, “deixando poços redondos num brejo de ciscos e os “cardumes
de mandis apodrecendo”.
- Na escuridão maior, vinda dos montes.
E após séculos de
solidão, Sarapalha desaparecerá num gigantesco rompimento de rancor e remorso.
- A treva mais estrita já terá pousado sobre a
estrada de Minas, pedregosa.
E os mortos nos centenários
cemitérios se rirão, pois como nos revelou Drummond, os mortos não choram.
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