O SISTEMA MUNDO E MINAS GERAIS




"Atualmente, vivemos em um sistema-mundo – a economia-mundo capitalista. “Capitalismo e economia-mundo (isto é, uma divisão do trabalho com múltiplas culturas e unidades políticas) são os dois lados de uma mesma moeda. Um não é causa do outro. Estamos meramente definindo diferentes aspectos do mesmo e indivisível fenômeno.” (BRAUDEL, 1998, p. 76).


Existe uma grande dificuldade para conseguir entender o que acontece em nossas vidas, especialmente quando essa tentativa de interpretação acontece no calor dos acontecimentos. Só depois de passados os eventos que conseguimos entender o que aconteceu conosco naquele período. Assim é também com a interpretação dos processos macro sociais. É só após um período de reflexão e maturamento é que conseguimos elucidar melhor tais processos. Dessa forma, o que farei aqui é uma tentativa de compreensão dos rumos a serem tomados pela economia mundial e de sua relação com Minas Gerais. Tentativa que não passa de especulação e sugere muito mais uma aposta do que virá a acontecer. Para isso utilizarei o conceito de sistema mundo. Tal instrumento de análise tem como marco não a sociedade nacional, mas o conjunto das economias nacionais, relacionando países centrais, semiperiféricos e periféricos que são definidos na divisão mundial do trabalho. Ainda dentro do conjunto dos países centrais existe um que é hegemônico. Atualmente vivemos o declínio da hegemonia norte americana. O economista Giovanni Arrighi* resgata a teoria das ondas longas de Kondratiev e os ciclos longos de Fernand Braudel para entender ascensão, apogeu e declínio de impérios no capitalismo. Segundo ele, existiram quatro longos séculos (o período relatado na verdade não correspondem exatamente a um século) com diferentes hegemonias centralizando redes de produção, comércio e poder: Gênova do século XV ao início do XVII; Holanda do fim do século XVI até a maior parte do XVIII; Inglaterra da segunda metade do século XVIII; EUA de 1870 até hoje. Atualmente, a hegemonia parece se transladar para o leste da Ásia, sendo que atualmente se cria um vácuo de poder. Os EUA já não tem a hegemonia econômica sobre o mundo, mas tem a hegemonia militar e tenta recuperar a primeira por meio da segunda.
Nessa transição de hegemonias o que parece acontecer é que cada região começa a ter seu centro de poder. Na América do Sul, o Brasil destaca sua liderança e quem sabe angariará o resto da América Latina. A interrogação que surge é se haverá uma imposição subimperialista ou uma via mais diplomática. Nesse contexto global, o Brasil se especializou em fornecer commodities para a China, tanto que seu comércio com o dragão chinês já ultrapassou o comércio feito com os EUA. É isso que vem causando as taxas de crescimento brasileiras. Mas esse crescimento não é feito para todas as classes. No Brasil o que temos é o desenvolvimento do subdesenvolvimento, com altas taxas de desigualdade social, desemprego, subemprego e violência. Essa é a via tomada por um país semiperiférico dependente. Não sei até que momento a China manterá seu crescimento econômico, mas o certo é que o Brasil cresce junto, como economia dependente, aumentando também seus problemas sociais ao invés de tentar transformá-los.
Minas Gerais se mostra como o centro da dependência brasileira, visto que a principal commoditie exportada para a China é o minério de ferro (em suas várias formas) e o aço. Agora o Brasil mostra ao mundo sua nova matéria prima, o petróleo, e tenta emplacar o etanol. Mas o que Minas ganha e ganhou ao longo da história com isso? Cidades antigas, resíduos da opulência de outros tempos? Mártires, poemas e buracos?
Esse texto é composto em sua maioria por interrogações. A questão que se coloca é como romper com este laço de dependência? Revolução socialista ou Industrialização de ponta? Como fazer com que o desenvolvimento não seja de poucos? É possível fazer isto por meio do Capital nacional?
Tantos questionamentos, mas uma coisa é certa: a História responderá.

*Giovanni Arrighi: “O Longo Século XX”

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